Não soube direito para onde ir, então vim pra cá.
Há um tempo me convenci de que não teria uso real toda essa ideia simplória de conexão. É simples demais, é fácil demais, é fútil demais ter tanta gente no alcance do dedão. Direita, esquerda, esquerda, direita, passam-se as folhas do catálogo. Fotos no banheiro, selfies borradas, pets forçados ao sorriso, tanquinhos à mostra, Disney, muita Disney, isso quando não armas, carros deturpados que se fazem de moda, símbolos de ordem e progresso… E os dizeres? Muito se fala que quer, mas um querer muito rígido: tem que ser assim, assado, cozido. Pra mim quem muito diz que quer e pouco faz de querer, na verdade não quer nada, não.
Há não tanto tempo assim me convenceram de que nos dias de hoje não teríamos muito jeito de conhecer tanta gente. Demorei um bom ano para me induzir ao vai-e-vem. Aproveitei o buraco do tempo e olhei afazeres meus: resolver pendências, tirar um pó dali, mudar de lado o cá, variar as vistas, variar os pesares, os quereres. Variei tudo o que consegui variar e tendo meu castelo erguido, minha rede posta, meus gatos por perto, achei que fosse um bom momento pra prática de meu dedão.
Ouvi boatos de um catálogo específico, mais coeso, mais humano, mais assertivo, mais isso, mais aquilo, fulana encontrou ciclano lá, beltrano só usa esse, é um arraso, amiga, vai fundo. Fui fundo e foi um arraso mesmo: me senti no chão arrastada pela falta de coerência. As notificações são muitas, vendem o peixe que só, a cada minuto recebia várias exclamações de como a minha folhinha de catálogo estava fazendo um suposto sucesso. Números sempre a mostra: dez pessoas curtiram sua cara e a descrição parcial e mui recortada da sua vida, vinte pessoas curtiram, trinta pessoas, quarenta… ! Chegou até ao noventa e nove com o símbolo de maizinho ao lado, o máximo que a interface suportava. Um arraso. Cada dedão meu pra direita era festa de vínculo: um encontro do destino! a felicidade chegou! mande mensagem, não o deixe esperando! Um arraso. E não deixei mesmo ninguém esperando, fui aos vinte que o catálogo festejou. Vinte oi, vinte tudo bem?, vinte e, aí?, vinte variações de saudação, vinte interesses recíprocos, vinte conexões, vinte olhadelas discretas, vinte sorrisos calorosos, vinte escritos acolhedores, vinte momentos de espera, vinte criações de expectativas que resultaram em zero retornos. Ninguém me respondeu. Um arraso.
Encarnando o capeta, mandei áudio pro Gordo: que caralho de geração de merda! Ele riu gostoso: a, mano, é, a galera não responde, mó saco, mas tem que gastar um tempo, uma energia ali, é assim mesmo. É assim mesmo, pensei. A galera não responde, é assim mesmo. Tem que gastar um tempo, uma energia com a galera que não responde, é assim mesmo. Um arraso.